sábado, 28 de julho de 2007

White Stripes: se parece que faltou algo, é porque não faltou nada


Eles estavam usando ternos! E chapéus! Não, não os membros da banda: Jack White vestia calça e camiseta vermelhas, enquanto Meg White vestia calça preta e camiseta vermelha. É bom lembrar que muitos músicos se arrumam quando vão tocar no Madison Square Garden, em Nova York. Na última terça-feira (24) à noite, porém, o White Stripes seguiu outra linha: os ternos e chapéus pertenciam aos rapazes da instalação dos amplificadores.

Começado o show, o White Stripes enfim foi deixado a sós: os dois passaram cerca de duas horas em um palco enorme em uma arena também enorme – e lotada. "Não lembro de termos tocado nesse barzinho antes", disse Jack White, dando uma geral no Garden. Provavelmente, no fundo ele não se sentia assim tão blasé, mas com certeza não parecia intimidado, nem deslumbrado, tampouco exultante. Ele simplesmente foi trabalhar, gritando e soltando agudos e suspirando, ao mesmo tempo fazendo suas guitarras o imitarem.

Toda a estrutura cenográfica era vermelha e a iluminação de palco, cuidadosamente posicionada, projetava sombras maravilhosas dos dois em uma cortina vermelha imensa no fundo do cenário. O único efeito especial foi um grande globo de discoteca, mas foi suficiente.

Entre uma música e outra, ele prestava gentis homenagens à "minha querida irmã Meg" (na verdade, eles são um casal divorciado), e para a apresentação de abertura, ficamos com o veterano de Nashville, Porter Wagoner, "o homem mais bem vestido da música country". (A outra abertura ficou a cargo da banda Grinderman, liderada por Nick Cave).

É impressionante o quanto o White Stripes conquistou com pura obstinação. Ao longo de seis discos, eles se aproximaram do rock 'n' roll comercial sem enfraquecer sua abordagem. Continuam com o mesmo som áspero e atordoante de sempre, sobretudo se comparado com as bandas emo e alternativas com as quais dividem as estações de rádio dedicadas ao "modern-rock".

Na maioria dos shows de rock, há momentos em que a máquina, ou a banda, por rápidos momentos, se torna atordoante: o ritmo é atrasado em uma fração de segundo ou a guitarra emite um grito estridente ensurdecedor ou uma letra de música é proferida aos berros, de modo agressivo.

Um show do White Stripes é composto por praticamente nada além desses momentos, e é aí que está a grande sacada. Ambos fazem um barulho violento e incontrolável, com a certeza de que o público não sentirá falta do conforto proporcionado por um baixo estável e arranjos redondos. Escutá-los tocando é meio como ler uma frase sem vogais - mas, afinal, quem precisa de vogais?

Acessos de fúria

O show do White Stripes também ressalta a importância de Meg White, cuja bateria é mais sofisticada do que muitos fãs (e sobretudo os não-fãs) se dão conta. Ela se recusa a imitar um metrônomo, nega-se a uniformizar as canções sujeitando-as a um ritmo constante. Na verdade, ela parece escutar a música na forma como Jack White escuta: como uma série de frases, cada uma com sua própria forma e ritmo.

Na música "Icky thump", faixa-título do mais novo disco do grupo, lançado no mês passado nos EUA, ela por vezes distorcia o ritmo encurtando uma das batidas, em perfeita harmonia com a guitarra de Jack. Se o jeito de ela tocar fosse matematicamente exato, seria menos musicalmente exato.

A maior parte do repertório foi dedicada às canções do CD "Icky thump", que é um pouco mais rouco do que seu excelente e imprevisível antecessor, "Get behind me satan". Enquanto este revelou Jack fazendo experimentos com marimba e outros instrumentos, "Icky thump" é um regresso aos apelos e acessos de fúria regidos pela guitarra.

A exaustão dos ouvidos se instala vez ou outra (é um efeito inevitável do estilo implacável da banda), mas o que predominou foi achar simplesmente sensacional escutar tradições conhecidas – garage rock, música country, blues – soando tão estranho. O solo indistinto de Jack durante a música "You don't know what love is (You just do as you're told)", do novo disco, soava absolutamente catastrófico, no melhor sentido da palavra.

O White Stripes estava na feliz posição de ter músicas demais para escolher, embora tenha encontrado tempo para a maioria dos grandes sucessos da banda, alguns deles reservados para o bis. Fizeram uma versão cantada de "We're going to be friends", uma acelerada de "Blue orchid" e, para finalizar, uma versão formidável de "Seven nation army".

Contudo, uma das músicas mais famosas da banda, "Fell in love with a girl", foi apresentada apenas em formato modificado: um sucesso ao estilo garage-rock gritado ganhou nova roupagem, mais lenta e mais suave. É possível que alguns fãs tenham sentido falta da versão original. Outros provavelmente entraram no ritmo. Parte da diversão de um show do White Stripes é aprender até que ponto você consegue abrir mão.


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